A formação dos idiotas úteis e o útil idiota formado no poder

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A formação dos idiotas úteis e o útil idiota formado no poder

Abaixo, publicamos abaixo um artigo que leva a refletir sobre a grave situação em que as universidades brasileiras estão mergulhadas desde a eleição de Jair Bolsonaro. Os lembretes históricos feitos, os princípios defendidos e, claro, o seu título !, estão em plena sintonia com a luta travada pela Internacional do Saber para Todos.

A redação do blog

Paulo Freire dizia que ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para sua produção ou construção. Da mesma forma, Rubem Alves acreditava que ensinar é um exercício de imortalidade. O fato é que enfrentamos desafios gigantescos no campo educacional. E esses “desafios” são potencializados por políticas públicas inconsequentes que dificultam os papeis tanto da escola quanto do professor dentro de sala de aula. Se o homem é, como imaginava Immanuel Kant, “nada além daquilo que a educação faz dele”, podemos compreender as razões de certos “pensamentos” como do Presidente e seus seguidores assíduos. E, a partir daí, perceber quão tacanha se encontra nosso imaginário social e coletivo no que se refere às questões educacionais.

Em outubro de 1964, no V Fórum Universitário, o então Presidente Castelo Branco, discursou algo que poderia muito bem ser confundido com alguma declaração do atual chefe do executivo ou do seu Ministro da Educação, Abraham “Gene Kelly” Weintraub. Na ocasião, Castelo Branco disse que o estudante deveria antes de desejar um “simples diploma”, alcançar amplos conhecimentos que lhes permitiriam ser elemento útil ao progresso e à prosperidade da sociedade. Reforçando que, nas universidades não se poderia permitir o fortalecimento de ideologias.

O discurso do, na época, general Presidente é extremamente atual. Na medida em que Jair Bolsonaro já havia alegado, anteriormente, que os jovens brasileiros possuem “tara” por formação superior. Sem contar as constantes declarações que tratam o espaço escolar e acadêmico como um difusor ideológico. O ensino público brasileiro, segundo ele, estaria aparelhado pela esquerda, que possui ambições de dominação político-ideológico. Nesse sentido, o alunado dessas instituições é visto como uma “massa” pronta para ser manipulada pelos professores.

Recentemente, vimos que os cortes anunciados pelo Ministério da Educação, em universidades, podem chegar a 54%. O governo fala em “contingenciamento”, mas a mesma é uma política intervencionista que visa diminuir os gastos públicos, impondo um limite ao mesmo, dentro de um prazo determinado. Geralmente, a prática se dá dentro de áreas vinculadas ao processo produtivo (indústrias). O que temos que compreender é que não se contingencia sem prazo. Quando isso acontece, é pura e simplesmente um corte. Pois, não há garantias de retomada do investimento no setor. Algo que na educação é muito mais complicado por conta da Lei do Teto de Gastos. Quando se aplica essa prática na pasta, os efeitos são imediatos e impactam não só na qualidade do ensino, mas em toda infraestrutura (manutenção, limpeza etc) dos centros escolares e acadêmicos. Agora em junho, foi noticiado que, por conta dos cortes, a Capes bloqueou mais de 2,7 mil bolsas de pesquisa Educação nunca será “gasto”, mas sim “investimento”. E é, justamente, essa tentativa de se precarizar ainda mais o ensino público brasileiro que levaram as manifestações dos dias 15 e 30 de maio.

Para sermos justos, os investimentos no campo educacional, em nosso país, sempre estiveram aquém do ideal. Nos anos de 1950, investia-se cerca de 3,4% do PIB (Produto Interno Bruto) na área; Nos anos de 1970, cerca de 2,8%; e em 2014, algo em torno de 5,4%. Na década de 1960, por exemplo, problemas como baixa escolarização, baixo investimento, altos índices de evasão escolar, cortes do orçamento para o ensino superior, falta de vagas nas universidades etc, já existiam.

Em 2017, o setor público investiu, em média, US$ 3,8 mil por estudante do ensino básico anualmente, o que nos coloca entre os últimos na lista dos 39 países que forneceram os dados par a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico); e cerca de US$ 11,7 mil por estudante universitário. Da mesma forma, remuneram-se mal os professores. Um professor da Educação Básica começa a carreira recebendo o equivalente a US$ 13 mil por ano. Na Colômbia, um docente iniciante ganha US$ 14,2 mil por ano. No México, US$ 17,2 mil. E na Costa Rica, US$ 24,2 mil, quase o dobro dos brasileiros. Quando a comparação é com as nações desenvolvidas, a distância aumenta. Na média das nações da OCDE, o salário inicial é de US$ 30 mil anuais.

Durante a ditadura, no Brasil, houve uma tentativa de terceirizar a obrigação do Estado no campo educacional. Uma prática que se alinhava ao projeto econômico do Governo, onde o nacional-estatismo passou a dar lugar ao chamado internacionalismo, na medida em que houve um alinhamento de nossas políticas econômicas ao capital estrangeiro. Na ocasião, a chamada “Agency for International Development” (USAID), que assessorava países periféricos, numa espécie de Doutrina Truman da América Latina, aplicou um convênio junto ao Ministério da Educação batizado de acordo MEC-USAID. Para os tecnólogos do Governo, o progresso econômico que o país aspirava, para sair da crise, só viria através do chamado “empresarialismo” na educação. Esse pensamento se coaduna ao que hoje convém chamar de empreendedorismo. Na época, usando o livro de Harbison e Muers, “Educação, Força-Humana e Progresso Econômico”, como referência, a ideia era dar importância às ciências naturais e exatas, como engenharia e medicina e treinamento empresarial, em detrimento das demais.

Os acordos MEC-USAID, dentre outros, tinha como proposta o treinamento para carreiras específicas em vez do desenvolvimento das forças intelectuais gerais, forjar um quadro técnico que conseguisse dar conta do novo projeto econômico brasileiro, permitir as universidades se libertarem de todas as malhas do Estado, ter autonomia plena para se desenvolver como empresa privada e conter as manifestações estudantis. Os movimentos estudantis – silenciados oficialmente desde 1964 conforme Lei 4464 – junto a professores, especialistas e intelectuais, acusaram o governo de querer privatizar o ensino. Isso é algo muito parecido com a política educacional do atual governo, que almeja uma “garotada que comece a não se interessar por política”. E que com as decisões de corte na educação, básica e superior, influenciou diretamente o fortalecimento da iniciativa privada no setor. Em declaração aos representantes de instituições particulares de ensino superior, no 12º Congresso Brasileiro da Educação Superior Particular, em Belo horizonte, no dia 06 de junho, o próprio Ministro Weintraub disse que o setor privado será o principal agente na expansão do ensino superior.

As políticas educacionais do período causou uma série de mudanças significativas em nosso sistema. A educação básica foi encolhida. Passando de nove para oito anos. Os cursos clássicos e científicos que preparavam os alunos para os vestibulares foram substituídos pelo ensino profissionalizante, conforme lei 5692 (1971). Disciplinas como Latim, Educação Política, Sociologia e Filosofia foram retiradas dos currículos. Pelo Decreto-lei 869 (1969) houve a diminuição da carga horária da disciplina de História e Geografia. Que foram fundidas no que se conveniou chamar de Estudos Sociais. Além disso, presenciamos a entrada das disciplinas de Educação Moral e Cívica e Organização Social e Política Brasileira (OSPB).

Na verdade, todo esse quadro demonstra um ataque ao conhecimento de disciplinas ligadas as Ciências Humanas. As principais formadoras do pensamento crítico. Algo que, dentro da conjuntura política da época, não era desejado. Em abril desse ano, Bolsonaro postou nas redes sociais que estudava descentralizar investimentos em faculdades de Filosofia e Sociologia para focar em áreas que geram – segundo ele – retorno imediato ao contribuinte, como veterinária, engenharia e medicina. As mentalidades da geração que se formava nos centros escolares e acadêmicos, nos anos de 1960, deveriam estar em conformidade com as novas realidades advindas do golpe de Estado. O mesmo acontece agora! Assim, introduzir as disciplinas sobre civismo significa “impor a ideologia da ditadura, reforçada pela extinção da Filosofia e diminuição da carga horária de História e Geografia, que exerce a mesma função de diminuir o senso crítico e consciência política da situação”.

O ensino público básico e, principalmente, superior, até bem pouco tempo atrás era considerado um privilégio de poucos. A política educacional da época da ditadura possibilitou um crescimento de 25% das escolas particulares no ensino básico, entre 1970 e 1980. Da mesma forma, a taxa de matrículas nas universidades públicas caiu de 75% em 1964, para 25% em 1984. A falta de investimento no setor contribui para a formação de indivíduos distantes e alienados dos problemas do país. Tal política contribuiu fortemente para o aumento da segregação social. Fazendo com que a dicotomia de nossa sociedade passasse a ser vista dentro das escolas e universidades.

Desde a redemocratização, em especial em meados dos anos de 1990, essa elitização do nosso sistema educacional passou a ser combatida com a inserção de políticas públicas que possibilitaram certa democratização do ensino. O que estamos presenciando é o retrocesso de tudo que levou décadas para tornar-se realidade. Dessa forma, as manifestações contra os cortes, ocorridas em maio, se deram justamente para que não tenhamos uma geração de “idiotas (ou inocentes) úteis”.

As coisas se tornaram óbvias. A educação está encarregada da missão de formar capital humano. O projeto de poder parece querer fortalecer o “sistema social que degrada o operário ao ponto de transformá-lo num simples instrumento de acumulação de capital, e que fatalmente muda os pais em comerciantes de escravos dos seus próprios filhos, destacaram Marx e Engels. É dessa forma que a educação deve ser tratada?

O presidente usou um termo “idiotas úteis” que supostamente foi dito por Lenin, uma fake news disseminada através de “memes”. Lenin tem uma mensagem ao estudante muito mais digna e construtiva. Quando fala da necessidade de assimilar “o conhecimento de fatos fundamentais” afirma: “não só deveis assimilá-los, mas assimilá-los com espírito crítico para não atulhar a vossa inteligência com trastes inúteis”. Mas, sem dúvida, o presidente não teria acesso a essas palavras, pois elas não estariam nos “memes” que usa como fonte bibliográfica.

Educar para o capital é formar pessoas que não são capazes de fazer o mundo melhor, mas apenas fazer com  que o mundo funcione da maneira que está. E quem quer o mundo da maneira que ele se encontra, a não ser os que lucram com ele?

Em sua época, Rousseau dizia que “saindo de minhas mãos, ele (o aluno) não será nem magistrado, nem soldado, nem padre; será primeiramente um homem”. Hoje temos que dizer que nossos alunos não devem ser apenas engrenagem que sustenta toda essa máquina, mas, antes de tudo, ser humano.

É preciso educar para o social para que cada cidadão seja responsável pela democracia. E como defende Henry Giroux, um dos maiores pensadores da educação da atualidade, “os professores não podem escapar de suas ideologias (e em alguns casos devem abraçá-las), e é importante entender o que a sociedade fez de nós, em que é que acreditamos, e como podemos minimizar os efeitos, em nossos alunos, daqueles aspectos de nossas histórias ‘sedimentadas’ que reproduzem interesses e valores dominantes”. 

Mas o arranjo de poder atual tem a intenção de fragilizar a educação publica para favorecer a privada, tolhendo os professores para dar pujança aos interesses dominantes. Logo ele que diz querer acabar com a criminalidade será a causa da ampliação dela, pois sem acesso à escola o caminho para o presídio se alarga.

A ditadura, modelo tecnocrata o qual o governo atual se inspira, foi péssima para a formação de cidadãos, não é a toa que de suas entranhas surgiu a maior facção criminosa do Brasil. Se temos como meta uma Segurança de qualidade, precisamos investir em educação, e é exatamente o que não vemos sendo feito.

Raphael Silva Fagundes é Doutor em História Política pela UERJ e Professor da rede municipal do Rio de Janeiro e de Itaguaí, Wendel Barbosa é Pós-graduado em História social e cultural do Brasil pela FEUC e professor da rede estadual de ensino.

Publicação do artigo original : https://diplomatique.org.br/a-formacao-dos-idiotas-uteis/, junho 18, 2019.

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Universidad de la Tierra : autonomía, saberes y rebeldías

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Universidad de la Tierra : autonomía, saberes y rebeldías

La idea generalizada que tenemos de la Universidad es la de un lugar en el que estudiar durante un tiempo y acabar consiguiendo un título que certifica el supuesto aprendizaje obtenido. La continua mercantilización de la enseñanza promovida por el sistema capitalista también nos lleva a pensar en la Universidad como un lugar excesivamente caro, al que solo algunos tienen la posibilidad de ingresar y en el que, finalmente, recibes un título que ya no te sirve para trabajar (y que, a veces, tampoco refleja los conocimientos adquiridos). Si pensamos en alguna facultad concreta acabamos pensando en un edificio grande, de hormigón gris, quizás adornado con un césped y formado por las últimas tecnologías (en lo que sea). A veces también pensamos en facultades que se caen a pedazos y aulas masificadas. Esto es exactamente lo que no quería el Doctor Raymundo Sánchez Barraza. El Centro Indígena de Capacitación Integral – Universidad de la Tierra (CIDECI-UniTierra) se plantea como todo lo contrario a esa concepción capitalista del aprendizaje que tan asumida tenemos. Por eso es imposible acercarse al proyecto (hoy realidad tangible) sin que se derrumben los esquemas aprehendidos. No se concibe entender el Sistema Indígena Intercultural de Aprendizaje sin la destrucción de lo establecido. Este proyecto comienza a andar en 1983, sin embargo, no es hasta 1989 que se define como autónomo. En ese año es auspiciado por el obispo de San Cristóbal de las Casas, Samuel Ruiz, conocido por su labor indigenista y de apoyo a los pueblos originarios del Estado de Chiapas. Y por ser obispo de la ciudad durante más de 40 años (hasta que el poder consiguió alejarlo de allí para que dejara de provocar fallas en el sistema). Coordinado en todo momento por Raymundo Sánchez Barraza, quién también regala su vida a la causa indigenista. En 1994 los ideales zapatistas se entroncan con los del CIDECI y no se entiende su filosofía sin ellos. Según su coordinador (quien suelta una carcajada al momento de dirigirnos a él como Rector) la denominación de Universidad es un acto de rebeldía, una respuesta a las burlas del sistema al referirse a ellos y al no considerar la capacitación que allí se recibe como un aprendizaje real. Y es que UniTierra ni es oficial ni busca el reconocimiento oficial, sino el de los pueblos y las comunidades indígenas. Indudablemente, ese ya lo tiene. Entonces “¿por qué no podemos tener el prestigio de las universidades?”, se pregunta Raymundo Sánchez.

Estructura y organización

Niños y niñas venidos de comunidades indígenas, a partir de los 12 años y con independencia de que sepan leer o escribir o de que conozcan el idioma castellano. Este es el perfil de los y las alumnas que ingresan al centro. No hay un número fijo de estudiantes en cada momento, ya que si lo normal es que se tomen cursos de (más o menos) 9 meses, jóvenes van y vienen según su disponibilidad. Pueden tomar 15 días de curso, un mes o varios años. Dependiendo de la distancia entre su comunidad y el centro, quienes allí estudian estarán internos o externos. Esto es, quienes vienen de comunidades más lejanas serán internos y harán uso de los albergues con los que cuenta el centro mientras que quienes residan en comunidades circundantes estarán externos, yendo y viniendo a sus cursos a diario. Así como el número de alumnos es variable en cada momento, lo que si se mantiene es la proporción de hombres y mujeres. Sobresalen los chicos sobre las chicas. En número, claro. También son constantes los y las estudiantes que desconocen el castellano al llegar a sus cursos. Las lenguas que predominan son el tzotsil, el tzeltal y el ch’ol; aunque son muchas más las que se cruzan en los talleres del CIDECI. Los profesores conocen esas lenguas, aunque no siempre hablan a los y las alumnas en su lengua materna, “porque si no nunca aprendemos” como dice uno de los chicos que allí desarrolla su actividad.

Los saberes que se imparten van desde cursos de tortillería y panadería (con los que se abastece el comedor en el que colaboran los y las estudiantes) hasta cursos de herrería, electricidad, carpintería y alfarería. Es gracias a la aplicación de estos aprendizajes que el centro es lo que es hoy en día, ya que ha sido totalmente construido por quienes allí estudian. Igual que la mantención del mismo. Un ejemplo, las cortinas se hacen en el taller de telares, y luego se cosen y preparan para su uso en el taller de corte y confección y luego, en el caso de que queramos que las cortinas lleven algún motivo dibujado este se hará en el taller de pintura. Así cualquier cosa que veamos en el vasto terreno del CIDECI habrá sido construida gracias a los saberes que allí se han transmitido. Todo esto sin dejar a un lado la música, mecanografía o computación, donde además se practica el arte de arreglar con las manos todos los instrumentos necesarios para estas actividades. Junto con estos saberes hay unas cuantas áreas de estudios como son: Derecho Autónomo, Arquitectura Vernácula, Agroecología, Hidrotopografía, Administración de Iniciativas y Proyectos comunitarios, Interculturalidad o Análisis de los Sistemas – Mundo. Al terminar su estancia en la UniTierra, los y las alumnas reciben apoyo en un proyecto para aplicar sus conocimientos en la comunidad de la que provienen. Así se les surte de conocimientos, asistencia y las herramientas necesarias para echar a andar sus ideas en sus comunidades. Unas ideas que luego repercutirán en sus compañeros más cercanos facilitándole o mejorándole sus vidas en comunidad ¿Cómo no considerarla Universidad, cuando quizás sea la más digna de todas?

Instalaciones y autonomía

La autonomía se respira en el aire de la Universidad de la Tierra. En el taller de zapatería se hacen los zapatos para los y las alumnas, el huerto ofrece las verduras que se cocinarán en el comedor, pero también las que sirven de alimento a los animales de la granja (conejos, borregos, ocas, cerdos, gallinas y pavos). Trabajar en el mantenimiento de estas instalaciones es la reciprocidad que ofrecen quienes allí estudian a cambio de la gratuidad lugar. Y a su vez, todo lo producido sirve para abastecer a las personas que allí residen. ¿Y la luz y el agua? Evidentemente, no vienen por parte del gobierno o de alguna institución oficial ya que lo único que se ha recibido por parte de estos ha sido un cruel hostigamiento. La CFE (Comisión Federal de Electricidad) ha merodeado por la zona de manera amenazante en busca de pagos. Eso se supera gracias a la instalación de generadores de electricidad. El agua que abastece a todos y que corre por el sistema de riego que hay instalado proviene de un profundo pozo cavado en sus terrenos. Autonomía total.


NewImageCada jueves los y las estudiantes se reúnen aquí para tratar temas de actualidad, movimientos sociales o problemas que se planteen en sus comunidades.

Lejos de tener carencias, la Universidad de la Tierra se muestra como un paraíso. Las instalaciones y su integración en la naturaleza distan mucho de lo que podemos pensar de esta universidad sin zapatos, como se autodenomina. Además de las decenas de talleres (entendidos como lugar físico), del comedor y de las construcciones que guardan los generadores; son varias las salas para seminarios y aulas que se prestan a otros movimientos sociales. Una colorida capilla se presta a la realización del culto y un enorme auditorio se abre a grandes celebraciones y tiene siempre las puertas abiertas al EZLN, quien celebró en dicho auditorio la Clausura del Primer Festival de las Resistencias y las Rebeldías Contra el Capitalismo este pasado mes de enero.

Filosofía e inspiración

Además de inspirarse en el EZLN y el obispo Samuel Ruiz, este centro por y para indígenas se asienta sobre los principios de Imanuel Wallerstein y de Iván Illich. Del primero agarran su análisis sobre el capitalismo basado en conceptos como Sistema – Mundo. Es de Iván Illich de quien beben sus concepciones acerca de la enseñanza, el aprendizaje y la desescolarización. Se olvidan del tipo de enseñanza impuesto por el capitalismo al que hacíamos referencia al comienzo de este texto y priman el aprendizaje en relación con las personas. Cómo diría Illich en La sociedad desescolarizada:

  • Los profesores de habilidades se hacen escasos por la creencia en el valor de los títulos. La certificación es una manera de manipular el mercado y es concebible sólo para una mente escolarizada. La mayoría de los profesores de artes y oficios son menos diestros, tiene menor inventiva y son menos comunicativos que los mejores artesanos y maestros.
  • La instrucción libre y rutinaria es una blasfemia subversiva para el educador ortodoxo. Ella desliga la adquisición de destrezas de la educación ‘humana’, que la escuela empaca conjuntamente, y fomenta así el aprendizaje sin título o permiso no menos que la enseñanza sin título para fines imprevisibles.

Dos citas muy prácticas para entender la filosofía del CIDECI que se basa en tres principios inquebrantables: “aprender haciendo”, “aprender a aprender” y “aprender a ser más”. Estos principios ejercen de guía principal a la vez que sirven de bola de demolición contra lo ya impuesto en materia de educación por el sistema actual. Una red entretejida por y para los indígenas de la mano del “Doc” Raymundo. “Seguir haciendo, seguir formando sin perder de vista las directrices del EZLN y de los pueblos originarios”. Porque la Universidad de la Tierra es por y para ellos.

Publicado en el blog
https://silviadistopia.wordpress.com/2015/03/05/autonomia-y-aprendizaje-en-cideci-unitierra/,
5 de marzo de 2015.

Para más información sobre los seminarios organizados por la Universidad de la
Tierra consulta las transmisiónes en vivo en el sitio:

http://seminarioscideci.org/
https://www.youtube.com/watch?v=XRzTfaieltA

La investigación universitaria, las noticias falsas y la democratización del conocimiento

 

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Publicamos el artículo siguiente de José Manuel Rodríguez Victoriano docente investigador en la Universidad de Valencia en España parecido el 18 de mayo en El Diario. Ilustra la desventura de nuestro compañero de siempre de la Internacional del Saber para Todos (IDST) persecutado por el Partido Popular (PP) y un periódico local por haber publicado las conclusiones de una investigación pública sostenida por el ayuntamiento de Valencia mostrando la reproducción de las desigualdades educativas vinculadas por el “Mapa escolar”. Un ejemplo entre otros, bastante aterrador, de las amenazas que hace pesar las políticas neoliberales sobre la independencia de los investigadores en las universidades públicas, las ciencias sociales y más generalmente los fundamentos de la democracia…

La redacción del blog

En las universidades públicas, la actividad docente del profesorado se complementa con su actividad investigadora. Ambas se orientan estatutariamente a promover el conocimiento y el bienestar colectivo de la sociedad que las sostiene económicamente. Una orientación hacia el ‘bien común’ que, aunque parezca sorprendente en la actual sociedad del conocimiento, no está exenta de peligros y amenazas. La investigación universitaria se puede convertir en una profesión de riesgo cuando en su ejercicio desvela los profundos intereses económicos, religiosos o políticos que determinados actores intentan mantener ocultos. En términos globales, las investigaciones sobre el cambio climático, que desvelan los intereses de las empresas energéticas, o sobre el origen de la actual pandemia y sus vacunas, que ponen en evidencia los intereses de las multinacionales farmacéuticas, ilustran la cuestión. En términos locales, el Convenio de investigación Mapa escolar, que ha mostrado la reproducción de las desigualdades educativas en la escolarización obligatoria en la ciudad de Valencia, nos proporciona un ejemplo paradigmático que desarrollaremos a continuación.

Un ejemplo que nos ha permitido constatar que la persecución de la investigación social que caracterizó las décadas centrales del siglo pasado sigue presente, bajo otras formas, en la sociedad española de 2021. A diferencia del autoritarismo represivo que caracterizó la persecución de la investigación y los investigadores sociales de la dictadura franquista, la criminalización actual es más sofisticada. Ha encontrado en la manipulación de la opinión pública, a través de las noticias falsas su espacio privilegiado de intervención. Su patrón es el siguiente. Se inicia mediante una crítica política desde los sectores políticos o sociales que se sienten amenazados por la investigación. Continúa con la judicialización de la denuncia que, con total independencia de su fundamento jurídico, da paso, al momento crucial del proceso. A saber, un juicio paralelo y una condena mediática de la investigación y sus investigadores desde los medios de comunicación afines a los sectores políticos y económicos que ven amenazados sus intereses. El juicio paralelo se basa en los materiales que han obtenido a través de la filtración delictiva del sumario. La condena mediática se sustenta en su manipulación informativa utilizando sus técnicas habituales: la desinformación, la difamación y la calumnia. Por último, los tres momentos anteriores impactan sobre el propio proceso de investigación, lo condicionan en sus diferentes etapas, y permiten abrir una duda ‘nada científica’ sobre los propios resultados empíricos y sobre la integridad institucional, profesional y personal de la universidad y los investigadores del proyecto. Se trata de una estrategia política y mediática muy efectiva que causa un grave daños a sus víctimas apenas tiene consecuencias para sus promotores. En la actualidad, las universidades públicas españolas son incapaces de enfrentar adecuadamente esta realidad.

Veamos. Según el último ranking de Shanghái, la Universitat de València se encuentra entre las 300 mejores universidades del mundo, esta excelente clasificación no ha impedido que cuando el trabajo investigador de su profesorado desvela los intereses económicos, políticos y religiosos de la escuela privada sostenida con fondos públicos, dicho trabajo se convierta en una tarea de alto riesgo que puede llegar a amenazar su propia integridad personal. Nos estamos refiriendo al proyecto de investigación Mapa escolar. El proyecto parte de un convenio suscrito en 2017 entre la Universitat de València (UV) y el Ayuntamiento de València. Tras su firma por el rector de la Universitat y la concejala de educación en nombre del alcalde, fue objeto de denuncia judicial en 2018 por parte del Partido Popular.

La causa penal iniciada por este partido contra el convenio se archivó en diciembre de 2019 pero la causa mediática aun ha continuado, con la persecución de su investigador principal, quien suscribe este texto, José Manuel Rodríguez Victoriano, convertido en blanco de difamaciones y calumnias por el diario local, Las Provincias. Un diario sostenido como la gran mayoría con fondos públicos, que a lo largo de su dilatada historia ha ejemplificado sobradamente como se puede mentir contando hechos verdaderos o sin necesidad de ellos.

En el contexto de su campaña mediática a favor de las políticas educativas del PP y de los intereses económicos y religiosos de la escuela privada concertada sostenida con dinero público, y abiertamente en contra del estudio ‘Mapa escolar’ y en particular, de su investigador principal, llegará a publicar más de cuarenta noticias, siete de ellas incluyendo fotografías de su investigador principal. Ese señalamiento, acompañado de insultos y amenazas por grupos de extrema derecha ha sido denunciado en comisaria e investigado por la fiscalía.

¿Qué es lo que resulta tan inaceptable en una investigación sobre la educación obligatoria en la ciudad de València, realizada por profesores de una universidad pública? La respuesta es sencilla: lo intolerable es la propia investigación y sus conclusiones. En la investigación, colaboraron diecisiete profesores y profesoras de las Facultades de Ciencias Sociales, Economía, Filosofía y Ciencias de la Educación, Geografía e Historia y Magisterio de la Universitat de València junto a investigadores e investigadoras de la Universitat Autònoma de Barcelona, la Universidad Autónoma de Madrid, la Universidad da Coruña y la Universidad Pablo Olavide de Sevilla. La investigación ha permitido conocer la evolución y la situación actual de la realidad escolar en el municipio de València. Una realidad que había estado oculta durante los veinticinco años de gobierno municipal del PP y cuyo diagnóstico es imprescindible para el ejercicio de las funciones que el Consejo Escolar Municipal tiene atribuidas. En particular, aquellas que le exigen elaborar anualmente un informe sobre la situación del sistema educativo para promover actuaciones y disposiciones municipales relativas a la educación especial, escolarización de población marginada, actividades complementarias y extraescolares y enseñanzas no regladas, así como, actuaciones dirigidas al tratamiento de la compensación educativa, la escolarización de la población inmigrante y el control del absentismo escolar.

La investigación también tenía como objetivo la formación de estudiantes de la Universitat de València en el análisis sociológico de la realidad escolar. En este sentido, veinte estudiantes de ciencias sociales se formaron en la práctica cualitativa de la etnografía escolar con el grupo de investigación “EMIGRA-CER Migraciones” de la Universitat Autònoma de Barcelona y, bajo la tutela del equipo de investigación de la Universitat de València realizaron nueve etnografías escolares.

Por último, el convenio explicitaba que tanto la investigación y la producción de conocimiento como la transferencia social de sus diagnósticos y el debate de sus conclusiones con los diversos sectores sociales implicados, es una responsabilidad que atañe a todas las instituciones de la administración y, en particular, a las universidades públicas. Sus resultados se han presentado en diversos congresos internacionales y nacionales y se han debatido en cuatro seminarios con los diferentes sectores escolares de la ciudad.

En síntesis, la investigación ha mostrado, en primer lugar, que el distrito único no sólo no garantiza el acceso equitativo a la educación pública obligatoria en la ciudad de Valencia, sino que contribuye a incrementar la segregación escolar; en segundo lugar, ha sacado a la luz el abandono que, desde hace dos décadas, arrastran determinados centros públicos de la enseñanza obligatoria y, por último, ha revelado los graves desequilibrios en la red de centros escolares de la ciudad. Dichos desequilibrios conducen a desigualdades que aumentan la segregación escolar y propician la exclusión educativa entre los sectores sociales más desfavorecidos. La síntesis anterior llevó al equipo de investigación a proponer a la administración local y autonómica un plan contra la segregación escolar en la ciudad de Valencia. Dicho plan puede consultarse aquí.

A partir de aquí se imponen dos conclusiones. La más apremiante consiste en destacar que el personal docente e investigador de una de las 300 mejores universidades del mundo no cuenta con un protocolo de defensa que les proteja frente a las falsas noticias y las calumnias mediáticas de las que pueden ser objeto en el desarrollo de sus investigaciones. Los actuales servicios jurídicos de las universidades públicas son claramente insuficientes para atender esta realidad. La denuncia judicial que promovió el Partido Popular fue acompañada de una continua e ilegal filtración de los contenidos del sumario al diario que acosaba a los investigadores que, convenientemente manipulados, propició un juicio mediático paralelo, donde la certeza de culpabilidad, machaconamente repetida en la serie de artículos publicados, sustituyó a cualquier presunción de inocencia, que finalmente el juez decretó. Durante este juicio mediático paralelo la indefensión de los investigadores fue completa.

La Universitat de Valéncia, que cuenta con grandes recursos comunicativos, propagandísticos e informativos, ha sido incapaz, por una parte, de defender ante la opinión pública y ante su propia comunidad universitaria la importancia de los convenios de investigación para la democratización del conocimiento. Por otra parte, tampoco ha sido capaz de dar una respuesta pública adecuada a la persecución mediático-legal que sufren sus investigadores. En definitiva, el proyecto de investigación Mapa Escolar de Valencia debería servirnos para aprender que las universidades públicas deben dotarse de un protocolo de actuación que articule los recursos científicos, jurídicos y mediáticos necesarios para proteger a su personal docente e investigador.

La segunda conclusión tiene un carácter más general, apela desde nuestra condición ciudadana, a la exigencia de veracidad de los medios de comunicación subvencionados con dinero público. Las ciencias sociales llevan décadas señalando que el derecho a la información veraz es una condición indispensable para la salud de las sociedades democráticas. En consecuencia, la posibilidad de continuar construyendo futuros democráticos en nuestras sociedades depende de la regulación de los propios medios y la alfabetización mediática de la ciudadanía. Como ha escrito Roger Silverstone, la moral de los medios puede conducirnos, o bien a una nueva ‘polis’, cuya calidad democrática propicie un ámbito de hospitalidad, responsabilidad, obligaciones y juicios que nos permitan profundizar nuestra vida democrática, o, por el contrario, puede precipitarnos, en nombre de la libertad, a un nuevo espacio de totalitarismo mediático, donde la trivialización informativa, la criminalización de las investigaciones críticas y la expulsión de las diferencias incrementen la barbarie de la ignorancia y la crueldad de nuestros vínculos sociales. La sociedad valenciana no puede estar al margen de esta realidad. Es imprescindible que haga suya la reivindicación de la veracidad informativa. Nos va en ello la democratización de la democracia. Sin la investigación y el conocimiento científico que proporcionan las universidades públicas no es posible el progreso y la equidad social. Cuando el ‘terraplanismo’ y las falsas noticias amenazan la investigación y a los investigadores, lo que de verdad se está poniendo en cuestión son los propios fundamentos de la democracia.

À l’origine de notre Internationale

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L’idée de l’Internationale des Savoirs pour Tous est née le 25 mai 2018, au cours d’une journée de débats sur l’Enseignement supérieur et la Recherche (ESR), organisée à l’Assemblée Nationale par « La France Insoumise ». 

Alors que se déroulait, au même moment, une énième messe néolibérale liée au processus de Bologne, cette rencontre, intitulée « Pour une Université européenne insoumise » et dont on trouvera ici le programme complet, visait plusieurs objectifs :
- passer au crible de la critique les fondements, la mise en œuvre et les conséquences des politiques libérales de l’ESR en France, en Europe et dans le monde,
- dresser un état des lieux des luttes des étudiants et des personnels de l’ESR, que celles-ci soient passées ou en cours et au niveau local, national ou à l’échelle internationale,
- démontrer qu’il existe désormais, dans quasiment tous les pays, des revendications, des propositions de réforme, des programmes alternatifs aux politiques néolibérales de l’ESR.

Cette journée, qui donna lieu à plusieurs tables-rondes et ateliers dont on peut voir ici la restitution filmée, fut couronnée de succès. D’une part, elle rassembla un large public (étudiants, universitaires, chercheurs, militants associatifs, syndicaux et politiques) en provenance de nombreux pays (Allemagne, Argentine, Colombie, Espagne, France, Grèce, Italie, Royaume-Uni, Suède…). D’autre part, la qualité des interventions, la richesse des débats, furent l’occasion pour les participants d’identifier de multiples points de convergence et donnèrent à chacun l’envie de continuer, de se fédérer.

Au cours de l’été, un appel commun à la création d’un réseau alternatif mondial de l’ESR fut donc rédigé. Intitulé dans sa version française « La science pour le plus grand nombre, pas pour l’argent », il fut traduit en plusieurs langues (anglais, espagnol, italien, portugais) et adressé pour signature aux participants de la journée du 25 mai, ainsi qu’à certains de leurs contacts. Bien que diffusé avec très peu de moyens, cet appel connut un écho certain. Fin 2018, plus de 100 signataires, individus ou collectifs, représentant 22 pays, avaient rejoint le réseau.

Le temps était donc venu de lui donner un nom et de le rendre plus visible, plus actif. Ainsi naquirent « L’Internationale des Savoirs pour Tous » et ce blog pour contribuer à sa vitalité.